eis aqui um buraco de minhoca público. ou seja, comecei, e não terminei. nem cheguei a lugar nenhum. leia sobre sua própria conta e risco. e como sempre, palavras sublinhadas ou destacadas em outra cor te levam a algum canto minimamente interessante da internet. a edição de hoje tá repleta deles - alguns inclusive meio assustadores.
faz pouco mais de um ano que eu faço acompanhamento com uma profissional que mudou minha relação com a nutrição (não, esse texto não vai correr para um caminho de contagem de calorias).
veja só: quando ela me passou meu primeiro plano alimentar, eu me surpreendi ao encontrar, além de sugestões de quantidades e tipos de alimentos, dicas de rituais para as manhãs, sugestões de playlists e, pasme: uma lista de leituras.
na época, ela me explicou que nutrir o corpo, para ela, não é apenas sobre os alimentos que ingerimos, mas com tudo que consumimos. essa perspectiva me pegou de surpresa, no bom sentido. de lá pra cá, confesso que muita coisa mudou; e não só na minha dieta alimentar.
ao longo desse período, senti que me tornei mais intencional com o tipo de conteúdo que absorvo ao longo dos dias. e essa intencionalidade passou a ser mais exercitada a partir do momento em que me deparei com o conceito de dieta digital, ou dieta de informação.
"Se a dieta física é a culpada por muitos dos problemas de saúde física que enfrentamos hoje, então nossa dieta de informação também deve ser considerada uma contribuinte para nossos problemas de saúde mental." — Jean-Louis Ralence
a dieta digital parte da premissa que toda informação possui uma função, então é crucial que, ao consumirmos um pedacinho de informação, ela seja nutritiva, dependendo do objetivo que eu tenho.

o que fez muito sentido na minha cabecinha, porque em alguns momentos o youtube vira meu principal canal de aprendizado de um novo conceito, e têm momentos em que os shorts são puro entretenimento de cérebro lisinho (destacando que há estudos específicos para a dieta de mídias sociais)
mas aí a coisa fica mais complexa. porque assim como um indivíduo pode aumentar a carga proteica de uma refeição, uma dieta digital nutritiva prevê um equilíbrio hormonal, sendo que os macronutrientes principais são acetilcolina, dopamina, serotonina, ocitocina, cortisol e testosterona. criaram até algo próximo de uma tabela nutricional (juro):

novamente, parte dessa história faz sentido; especialmente diante de uma realidade de horas infinitas de doomscrolling, é importante ser mais intencional com o quê e como eu uso meu cérebro.
“a nutrição digital consiste em desenvolver e implementar habilidades cognitivas e criar novos hábitos para nos ajudar a manter o controle do nosso consumo de tecnologia.” - fabricio teixeira e caio braga (tradução livre)
e aí entram dois pontos importantes a serem feitos:
já existe gente lucrando sobre o conceito de dieta digital— a jocelyn é uma delas, tendo cursos virtuais sobre o uso de telas na primeira infância e como definir o seu acordo familiar sobre o uso de tecnologia. tire suas próprias conclusões.
assim como gente lucrando, também já existem diversos artigos sobre como tornar a sua dieta digital uma de alta performance. esse é um deles. novamente, tire suas próprias conclusões.
entra um trabalho fundamental de design (alô, ux e ui) que envolve ética e a missão de como os designers podem, de fato, influenciar nossa dieta digital. spoiler: é sobre honestidade e transparência. não falo mais nada.
no final do dia, uma dieta digital se resume a se perguntar constantemente se essa informação vai me ajudar no meu objetivo, ou é simplesmente junk food (🍔) para o meu cérebro? (me responde aí, inclusive: qual é a categoria dessa newsletter pra você?).
ou então: seria o momento ideal para parar de consumir informações digitais, e partir para o offline um pouquinho? até porque:
“não é coincidência que a ascensão de um "tecnodeterminismo" no trabalho criativo coincida com o aumento da exaustão pessoal e ansiedades relacionadas a dispositivos. […] como criadores e como público, recebemos todo o espectro de consequências da publicidade negativa, das distrações de smartphones e esgotamentos contínuos até uma vigilância assustadora, violações de privacidade e irritantes lacunas de algoritmo. ” — Jess Hendersen (tradução livre)
tá bem, acho que fui longe demais. mas meu ponto é (pelo menos, até agora): a gente precisa prestar mais atenção na nossa nutrição digital sim — porque ela é algo importante —, assim como limitá-la, valorizando a dieta offline também. porque um livro também pode ser saboroso. e porque o tédio faz parte da vida; mais do que o black mirror.
tudo isso porque recentemente me deparei com um texto da Kate Lindsay, em que ela fala justamente sobre o tédio (aqui, novamente, tradução livre, tá?):
"Tédio é quando a vida acontece. Tédio é quando você lava a louça, faz o recado que estava adiando, responde à mensagem que deixou na lista de leitura. Tédio é quando você leva um livro para ler no metrô ou conversa com a pessoa na sua frente na fila sobre como a farmácia está lenta. Tédio é quando você faz as coisas que te fazem sentir que tem a vida sob controle. Não estar entediado é o motivo pelo qual você sempre se sente ocupado, o motivo pelo qual você continua "sem tempo" para levar uma encomenda ao correio ou trabalhar no seu romance. Você tem tempo — você só o gasta no seu celular. Ao se recusar a deixar seu cérebro descansar, você está escolhendo assistir à vida dos outros através de uma tela, às custas da sua.”
fica aí com essa pancada também.

as indicações dessa edição?
📖 nação dopamina
o primeiro livro indicado naquele primeiro plano nutricional mencionado logo no início da edição de hoje. fala sobre como somos uns viciados em dopamina de fácil acesso. loucura total.
❌ talk da bia guarezi sobre o valor da sua atenção
se uma vida totalmente longe das telas é impossível atualmente, como cuidar mais do nosso tempo diante delas? assista aqui.
📽️ tipos de descanso
um dos meus conteúdos preferidos da renata é essa complementariedade dos diferentes tipos de descanso. um deles é o descanso longe de telas. mas o importante é buscar todos os tipos para estar plenamente ~descansado.
📕 ensinando pensamento crítico
como disse uma amiga minha nesses últimos dias, é incrível como a bell hooks consegue traduzir um pensamento acadêmico complexo em uma linguagem acessível para todo mundo. esse livro é um exemplo disso.
▶️ o homem que quer viver para sempre
alerta conteúdo junk food. caí nesse documentário sobre um rico doidão que quer viver pra sempre. norteamericano para variar. gerou reflexões interessantes sobre obsessões particulares e avanços científicos. e só.
acho que você já percebeu como a minha mente sempre volta para assuntos e referências de saúde mental e consumo de informações, né? pelo menos foi esse insight que foi o tema da terapia recentemente, rs.
no final do dia, escrever tem sido um exercício bom de intencionalidade no consumo e compartilhamento de informações, então espero que esteja sendo nutritivo por aí.
sem mais delongas,
até breve (: