#12 | dois centavos sobre bastidores
ou: o que pode tirar a magia do 'ao vivo' é mágico por si só
os links da edição de hoje estão concentrados na parte de indicações. então se você ler uma palavra sublinhada ou em vermelho, saiba que ela te levará para algum cantinho legal da internet que acessei por aqui nos últimos tempos.
a primeira vez que eu subi no palco pra valer — sem contar apresentações escolares —, eu tinha quatro anos, e era minha primeira apresentação de ballet clássico. desde então, pra mim, a graça não é tanto estar sob o holofote em si (até hoje ele me dá calafrios, inclusive), mas acompanhar o que acontece nas coxias; sabe? a afinação dos instrumentos da orquestra antes da primeira nota ser tocada. a expectativa de quem já repassou o texto mentalmente inúmeras vezes, mas ainda não encarou a plateia.
estar na coxia (que palavra feia, né?), pra mim, é carregar a expectativa de todas as pessoas que ocupam e ocuparão espaço em um espetáculo, e viver o êxtase de todas elas. de uma vez só. é sentir tudo por todo mundo. incluindo você mesmo. coisa de maluco.
não hesito em afirmar que faz bastante tempo que os bastidores são o meu lugar preferido, e que busco ativamente entender como é feito (quase) tudo que vejo ocupando um palco, na parede de uma galeria, na televisão e na tela do cinema. foi por isso que acabei estudando design de experiências; fiz uma certificação de design de exposições e crítica curatorial em um dos meus museus preferidos; e trabalhei caminhando por duas semanas no backstage de um dos maiores festivais de música do país.
veja bem: não é para ser um papo de carreira, embora seja massa pensar que o que eu faço todos os dias surgiu de uma curiosidade e um interesse que me atravessa há muito tempo. mas é para contextualizar o destaque que darei nos próximos parágrafos para a quantidade de conteúdo que vem sendo criado nos últimos tempos sobre, bem, bastidores.
aproveito para deixar aqui publicamente um parênteses mental que está em curso: porquê houve esse aumento significativo de bastidores enquanto tema central do conteúdo?
as indicações dessa edição? (caprichadas, tá)
😮 adolescência, netflix
além do conteúdo ser incrível por si só (vale muito se aprofundar no tópico de psicologia da adolescência e a radicalização online - inclusive, se você quiser se aprofundar no cenário brasileiro, veja isso aqui), adolescência é uma série tão elogiada tecnicamente que ‘não parece ser da netflix’.
por quê? os quatro episódios da série - cada um com 40 a 60 minutos de duração - foram gravados em plano sequência, o que significa ser gravado em uma tomada só, sem cortes entre as cenas. como em uma peça de teatro, os atores, figurantes e toda a equipe precisaram ensaiar muito para agir no tempo certo, da forma correta, e ter um espetáculo acertado de uma só vez.
apenas o segundo episódio, por exemplo, exigiu treze tomadas, e só foi acertada no quinto dia de gravação, depois das doze tentativas anteriores falharem. ao longo do episódio, vemos 50 adultos e 320 adolescentes, completamente coreografados por meses.
embora você vá encontrar spoilers, recomendo muito ver esses vídeos dos bastidores da série: a explicação da cena inicial (legendas somente em inglês), uma parte do ensaio do segundo episódio, o processo de edição, . se você gosta se saber o lado mais nerd da produção, esse artigo (em inglês) traz os equipamentos usados na captação, e nessa entrevista (também em inglês) o diretor de fotografia revela os bastidores dos bastidores.
e se você quiser ver outras coisas que também foram gravadas em plano sequência, ficam as dicas dos fimes 1917, birdman e 12 anos de escravidão.
🍄 making of de ‘the last of us’ na hbo max
outra série hype do momento é a the last of us, baseada no jogo com o mesmo nome. na primeira temporada, os produtores lançaram um extenso vídeo do making of depois que todos os episódios foram pro ar.
agora, já em sua segunda temporada, os bastidores também tomam a forma de capítulos semanais, reproduzidos automaticamente após o episódio regular. dessa maneira, conseguem explicar a razão por trás de decisões de mudanças na narrativa — em relação ao jogo —, técnicas específicas usadas na maquiagem, na produção, nos cenários (que estão imperdíveis) e nos efeitos especiais presentes em cada episódio. dá para acompanhar no youtube, no direto na HBOmax.
🇧🇷 a música brasileira por trás de anxiety, da doechii
que a música brasileira é incrível a gente já sabe. mas há algumas semanas eu me deparei com esse post aqui, que mostra como a estourada música anxiety, da doechii, não só é um sample de ‘somebody that i used to know’, como o trecho original é de uma música de luiz bonfá. no post, mais alguns casos de como grandes hits do mundo têm sua origem em notas abrasileiradas.
o que me leva a esse projeto aqui do the pudding, agência especializada em ensaios visuais de ideias debatidas na cultura. o shared DNA in music traz tipo uma ‘árvore genealógica’ de diversas canções. é de passar horas se divertindo (com som), e imaginar como seria se tivéssemos esse mapeamento concluído para todos os gêneros. 🤔🤩
🪞 ok-go voltou com tudo
seguindo na vertente musical, se tem uma banda neste mundo que sabe fazer clipes é a OK Go (lembra das esteiras?). então foi com muita alegria que recebi a notificação no youtube que eles haviam postado um vídeo do seu novo single, love. só continue a ler depois de ver esta obra que sincronizou 25 robôs colaborativos (ou cobots) com a música em si. sério.
depois de assistir dezenas de vezes, fui saber mais sobre como tudo isso foi feito. descobri que o clipe exigiu uma equipe de sessenta programadores de dez países diferentes, cento e trinta pessoas no total, 63 espelhos e 39 takes de filmagem para chegar ao resultado final.
e sim, tudo foi documentado!!! tanto sob uma perspectiva de desenvolvimento e gestão do projeto em si, quanto uma visão em primeira pessoa de qual integrante da banda estava em frente às câmeras (!!!!) — e outras pessoas da equipe. não preciso falar que foi minha obsessão desse último mês.
🤯 the rehearsal, na max
por fim, acho que essa indicação é a epítome do tema dessa edição, e a prova que ando consumindo muita coisa na HBOmax. the rehearsal, na verdade, é uma série de comédia documental (ou também denominada pseudosérie) de 2022, e retornou nesse mês com uma segunda temporada.
‘o ensaio’ traz nathan fielder como uma versão ficcional de si mesmo, enquanto ajuda pessoas comuns a literalmente ensaiarem conversas difíceis ou eventos de vida através de cenários realisas e atores contratados para recriar situações reais.
assim, é uma verdadeira brisa, e você não sabe se acaba rindo de vergonha alheia, constrangimento, de nervoso, maravilhamento com as simulações e os cenários e os detalhes retratados, ou simplesmente pelo caos do processo inteiro.
como dito nessa crítica, a série, na verdade, “não deixa de ser um convite para encarar que não há como fazer isso. por mais clichê que isto soe, viver só se aprende vivendo”. de bastidores, só o palco mesmo.
eu poderia passar mais muito tempo trazendo conteúdo atrás de conteúdo sobre os bastidores de bastante coisa por aí — sobre a própria carreira da doechii, inclusive. percebi, ao longo desse processo, que esse talvez seja o tipo de conteúdo que eu mais consumo. junto com tiny desk concerts.
tem algo que você gostaria de saber como é feito, criado, produzido? me conta. agora que esgotei os conteúdos sobre o clipe de love, preciso de novas distrações.
até breve (:
Cliquei em cada referência e a cada uma que clicava era uma nova e maravilhosa surpresa ! Que conteúdo maravilhoso, qualidade lá em cima. AMEEEEEEI !
Meu Deus que alegria estar nesse cerebrinho kkkk amei demais as refs, uma curadoria de bastidores impecável, doida pra fuçar tudo. e realmente adolescência me deixou obcecada por muitos dias em tudo que era produção.