spoiler: a edição de hoje tá numa pegada ‘você sabia?’
e um lembrete: se a palavra está em vermelho/laranja/como você quiser chamar, ela te leva para algum outro canto da internet.
adorei ter ido ao museu do ipiranga depois que ele foi reaberto ao público. desde sua reinauguração, na verdade, já fui três vezes. e toda vez que vou, inclusive, não só quero voltar novamente, como sinto uma pontinha de tristeza por ser um museu que não aceita eventos na sua estrutura.
mas a coisa que mais me fisgou ao visitar o museu renovado foi um novo mapa do território brasileiro durante a vigência do tratado de tordesilhas. sabe? o das quinze capitanias hereditárias (abri uma gaveta mental?). esse mesmo:
pois bem, desde que eu me formei no ensino médio (nem faz tanto tempo assim, tá), novos estudos mostraram que essa versão aí de cima, que figurava no meu livro de história e que foi desenhado ainda em 1854, não era assim tão correto.
a partir de cartas e documentos oficiais, foi provado que, ao invés de linhas paralelas, as capitanias eram, na verdade, divididas de acordo com meridianos (no norte), linhas em direção noroeste (no sul), e ainda haviam áreas não distribuídas. dá pra acompanhar uma comparação melhor aqui. a versão atual, no caso, é essa:
ok, nada mudou na sua vida, né? nem na minha. mas pasme: ainda não são todos os livros didáticos que foram atualizados, embora a proposta de atualização existe desde os materiais de 2017. ironicamente então, a versão mais nova tá no museu.
mas falando em museu: num outro momento, e em outro continente, me vi aprendendo sobre as descobertas arqueológicas sobre as cidades amazônicas (clica nesse link, vale a pena). sim, aprendi sobre o brasil em plena terra de colonizador, ganhando lições sobre o território nacional dentro de um museu de arte. vai entender.

diferentemente da narrativa que é ensinada para os brasileiros em idade escolar, pesquisadores têm encontrado cada vez mais evidências de que o território amazônico já foi populado por cerca de dez milhões de pessoas antes mesmo de 1500; ano em que portugal mesmo só tinha um milhãozinho de portugueses. leia novamente.
corte seco para: de volta para casa e muitos meses depois, fui atrás das pesquisas que evidenciaram que a Amazônia, diferente do que nos contaram, possui atualmente uma vegetação que é resultado de muitos e muitos anos de manejo humano, através do plantio sustentável executado por populações indígenas (e não intocada e mística e virgem, como era na minha mente humildemente ignorante). esse plantio, inclusive, explica o porquê ainda hoje existe na floresta uma dominância de espécies como o açaí, o cupuaçu, a seringa, e a castanha—todas com importância social e relevância econômica.
ou seja: o que hoje é a maior floresta tropical do mundo, já foi um gigantesco jardim cuidadosamente cultivado por humanos ao longo de aproximadamente 12 mil anos. de novo, leia novamente.
🤯 explodiu aí também? 🤯

as indicações dessa semana?
📖 futuro ancestral, ailton krenak
“esses meninos que vejo em minha memória não estão correndo atrás de uma ideia prospectiva do tempo nem de algo que está em algum outro canto, mas do que vai acontecer exatamente aqui, neste lugar ancestral”. esse livro me motivou a escrever a edição de hoje, pensando que, se o passado nos ensina que existe outro caminho pra floresta que não o extrativismo, quem tem algo a perder a ponto de não querer nos deixar trilhar essa rota novamente enquanto sociedade?
🎵 dominguinho com joão gomes, mestrinho e jota pê
eu não sabia que eu precisava desse encontro. quarenta minutos de puro deleite de brasilidade. destaque especialíssimo para o cover de charlie brown jr que coloca uma cereja no vídeo.
🎭 o céu da língua, com gregório duvivier
“é provável que o mundo esteja acabando. ele sempre esteve acabando. mas, se der para escolher como termina, quero que seja no galope de versos decassílabos". pare tudo que você está fazendo e vá assistir essa peça-fluxo de consciência-stand up poético de gregório duvivier, em cartaz em são paulo até final de maio. sério. de nada.
📽️ para saber mais sobre a nova história da amazônia
se você quer saber mais sobre essa nova perspectiva dessa parte da história brasileira, você pode assisti-la, ouvi-la e até levá-la para a sala de aula. se preferir, pode simplesmente ler. só não pode parar de (re)aprender :-)
quando criança, eu tinha uma série de livrinhos de curiosidades sobre tudo - flora e fauna global, estaços do ano, música, história mundial (até procurei por imagens no google, só que minha memória não é tão boa a ponto de lembrar dos títulos corretos).
confesso que até hoje esses momentos ‘você sabia?!’ me pegam demais. então não preciso dizer que me diverti horrores escrevendo a edição de hoje, né? mais do que isso, olhar para a nossa brasilidade sempre é um deleite — e as indicações foram cuidadosamente selecionadas para celebrar isso. espero que você tenha gostado.
e obrigada pela sua leitura até aqui; hoje tava extensa. me empolguei.
até breve!
Viciada em dominguinho também por aqui, haha. Adorei a edição dessa semana!